A carta

Tenho saudades tuas.

Era assim que começava a carta, aquele pedaço de papel pousado em cima da mesa há mais de um mês, à espera de ser terminado, ou sequer, enviado. A esferográfica azul repousava em cima do papel, imóvel desde que ali tinha sido colocada, solitária, ardendo pelo contacto dos dedos que fariam deslizar a sua ponta pelo papel amargurado, ressequido e deformado pelas muitas lágrimas que lá tinham sido vertidas, como as palavras que nunca seriam escritas, expressas, recordadas.
Uma brisa fresca esgueirou-se pelo quarto adentro, acariciando cada móvel, cada livro, cada peça de bijutaria, erguendo levemente o papel que ansiava ser enfiado no envelope, endereçado a quem de direito.
A porta estremeceu com o contacto das mãos delicadas, a cadeira chiou com o peso pouco pesado da sua ocupante, a caneta reluziu quando foi levantada e apertada entre dedos esqueléticos, o papel vibrou sobre a tinta que escorria pelas suas linhas invisíveis.

Lembras-te da última vez que nos vimos?
Eu não consigo esquecer-me, do teu sorriso maravilhoso, do calor dos teus lábios na minha bochecha enquanto me dizias adeus, com uma risada que ainda hoje me arrepia a espinha e me aperta o coração. Sempre te disse que o adeus era uma palavra demasiado solene, demasiado definitiva, mas tu sempre achaste isso ridículo. Para ti, o adeus era apenas temporário, como um até já. Compreendi-te então, e ainda hoje te compreendo e às tuas palavras esperançosas.

O papel ressentiu-se com a humidade salgada das lágrimas que, mais uma vez, salpicavam a sua superfície, para sempre marcando-o.

Sabes que demorei semanas a escrever esta carta? Sempre com medo do que poderia dizer, de como te poderia ferir quando não é essa a minha intenção. Nunca foi.
Se pudesse iria agora mesmo ter contigo, abraçar-te, dizer o quanto te amo, o quanto te quero de volta comigo, mas isso seria injusto da minha parte, não seria? Não posso esperar ter-te sempre comigo, afinal tens direito a seguir o teu caminho, a errar, a cair e a erguer-te de seguida, com mais determinação do que anteriormente.
Só quero que saibas que, aconteça o que acontecer, não importa quão magoado estejas, eu estarei sempre aqui à tua espera. Por favor nunca te esqueças disso. Nunca esqueças como te quero bem e de como faria tudo por ti.
Se um dia te sentires perdido, lembra-te que tens sempre um sitio para onde voltar, que a minha porta, não, que esta porta, a de nossa casa, a casa dos nossos pais, estará sempre aberta para te receber.
Não vou dizer que me sinto só, pois seria injusto, mas as saudades são muitas e todos os dias olho para as fotos espalhadas pelo corredor, vejo os vídeos de olhos colados ao televisor.
Sabes que não consigo mais ver filmes de guerra? Só de pensar que aquele poderias ser tu, que poderia ser a tua história. Nem quero pensar nisso!
Por favor volta são e salvo. É tudo que te peço.

A esferográfica espremeu o resto da sua tinta para o papel, sob a pressão avassaladora dos dedos trémulos e suados.

Com muito amor, da tua irmã.

As lágrimas caíram pesadas sobre o papel e as mãos quentes tentaram limpar aquelas manchas reveladoras do mais extremo estado de espírito, mas em vão. O papel secaria, mas seria óbvio o que ali tinha acontecido.
Dedos secos e inseguros dobraram a folha em harmónica e enfiaram-na no conforto de um envelope depois selado, já com o endereço marcado pela mesma esferográfica que cuspia a sua última tinta.
O papel e o seu novo conforto, o envelope, seguiram caminho ao lado do corpo da atarefada rapariga, que desceu as escadas do prédio e os enfiou, depois de alguma relutância, na ranhura do marco de correio que ficava estacionado a escassos metros da saída do prédio onde residira, até há um mês atrás, com o seu adorado irmão, que seguira para a guerra.
Aquela carta seguiu caminho pelos correios, com o peso da esperança, do amor e da saudade nela contida.
O envelope rejubilou ao ser rasgado e a carta enalteceu-se quando foi desdobrada e empastou-se ainda mais com as lágrimas que o receptor não conseguiu esconder por detrás da sujidade do seu rosto ferido. Que felicidade!

Querida irmã,
Também morro de saudades tuas …

Submetido ao desafio Saudade da Fábrica de Histórias.

Ira

“Não posso acreditar.”
Uma jovem mulher caminhou, cambaleante, rua abaixo, tentando aguentar-se em cima dos tacões que lhe massacravam os pés e da saia justa que lhe limitava os movimentos.
“Aquele cabrão vai arrepender-se. Ai se vai.”
Cerrou uma mão e esmurrou uma montra, que resistiu ao impacto. Ela gemeu com as dores e, furiosa, descalçou um dos sapatos e arremessou-o contra o vidro, uma e outra vez, até que o buraco cresceu e o vidro acabou por se partir em pequenos cacos.
O alarme soou furioso e ela levou as mãos à cabeça, berrando e injuriando tudo o que respirava. Deixou o sapato no meio dos estilhaços, e seguiu caminho com um só sapato calçado. O tacão prendeu-se nos paralelos e ela gritou ao sentir as dores no tornozelo. Pontapeou o ar e o outro sapato voou, para depois aterrar no tejadilho de um dos carros estacionado ao lado dela.
“Quem é que me vai pagar uns sapatos novos. QUEM?”
Ninguém respondeu mas ela seguiu como se isso não interessasse muito.
“Cabrão! Onde já se viu deixar-me ficar sozinha no bar? Lá porque a irmã teve um acidente, ele tinha mais era que ficar ao pé de mim e levar-me a casa. A irmã pode morrer, quero lá saber.”
Sentiu uma picada num dos pés e encostou-se a um dos carros para poder ver o que se espetara na sua pele. Era um vidro de uma garrafa de cerveja.
Ela arrancou-o à força e começou a sangrar, mas continuou a sua caminhada, cambaleante, até chegar ao seu Mercedes. Entrou e espetou as chaves na ignição, não acertando à primeira e enfurecendo-se com o automóvel, esmurrando o tablier e os assentos, como se isso fosse resolver o problema. Furiosa, premiu a buzina e assim esteve durante um minuto ou dois, até ela própria se cansar da barulheira e tentar começar o carro novamente.
“Mas será possível que hoje está tudo contra mim?”
Sem cinto e descalça, com o pé ainda a sangrar, manobrou o carro para sair do seu espaço, mas tinha a visão tão turva que embateu tanto no carro da frente como no de trás, profanando os condutores dos outros veículos por a espremerem ali.
Ligou o rádio e pôs-lo a tocar no máximo, cantarolando e movendo-se ao som da música enquanto conduzia a alta velocidade pela estrada.
Avistou um pequeno cão a mancar pela estrada à sua frente e um sorriso assustador tomou conta do rosto dela. Pressionou o acelerador e riu-se como uma doida enquanto o carro passou por cima do animal.
“É o que as bestas merecem. Gostaste?”
O riso não parou e a música fazia tremer o interior do carro enquanto ela continuava a acelerar.
Quando estava numa enorme recta, avistou ao longe um outro carro que arrancou depois de largar três miúdos na beira da estrada. Eles atravessaram a passadeira e ela observou-os calmamente. Voltou a carregar a fundo no acelerador, com os olhos alerta e o riso arrepiante a vir do fundo da garganta.
“Vais ver o que acontece quando me deixam sozinha. Vais ver o que acontece, cabrão.”
Os rapazes, que conversavam alegremente e trocavam piadas, viram os faróis do carro e assustaram-se quando perceberam que o louco do condutor vinha a toda a velocidade de encontro a eles.
O rapaz que vinha mais atrás, saltou para a retaguarda e os outros dois correram para a frente.
Conseguiram esquivar-se por sorte, embora o do meio tivesse raspado a perna no guarda-lamas do Mercedes.
Ela não conseguiu parar, de tão louca que estava, nem percebeu que ia direita a um muro de pedra. O carro espetou-se com uma força descomunal contra o mural e ela saiu a voar pelo vidro fora, embatendo violentamente com a cabeça na pedra.
Teve morte imediata.

Este texto está aberto a interpretações várias, ou se calhar eu estava só de mau humor.

Submetido ao desafio Pecados e Virtudes da Fábrica de Histórias.

Post-it

16_post-itOs números no despertador piscavam freneticamente e o som da estação de rádio sintonizada preencheu o quarto, vagamente iluminado pela luz do amanhecer.
A figura que se encolhia confortavelmente entre lençóis e cobertores, moveu-se graciosamente e sentou-se na cama com um enorme sorriso a preencher-lhe os lábios. Esticou os braços e cruzou-os atrás da cabeça, soltando a frase que iniciava todos os seus dias.
“Bom dia mundo!”
Com leveza saltou do leito e caminhou pelo chão até á casa de banho. Lavou o rosto com água fresca e esfregou os dentes enquanto murmurava uma qualquer canção que tocava ainda no rádio do seu quarto. Regressou ao quarto para vestir umas calças de ganga e uma blusa amarela. Desligou o despertador e foi para a pequena cozinha do seu apartamento, preparando, sem pressas, um batido de frutas e torradas com manteiga. Quando terminou pegou na sua bolsa, pendurada no bengaleiro da entrada, e saiu de casa com o sorriso ainda plantado no rosto.
Entrou no metro subterrâneo e cerca de meia hora depois chegou ao seu destino. As portas abriram-se e uma multidão saiu ao mesmo tempo, quase abalroando-se, mas ela manteve-se calma e esperou que quase todos saíssem e depois pisou a plataforma, antes que a multidão contrária entrasse de rompante com medo que as portas se fechassem e o transporte seguisse viagem.
Subiu para a superfície e atravessou a rua até chegar ao edifício onde passava grande parte dos seus dias. Entrou no elevador, com mais três pessoas que cumprimentou fervorosamente, subiu ao 12º andar e saiu frente a um balcão com as letras “recepção” embebidas na madeira da sua base.
“Bom dia Patrícia, Jorge!”
A mulher de trinta e seis anos, com cabelos ruivos e olhos castanhos, voltou-se para a recém-chegada e sorriu.
“Bom dia, linda!”
O Jorge, um homem de trinta anos, cabelos negros e olhos como azeitonas, continuou a fazer o seu trabalho, limitando-se a erguer os olhos cansados e abanar a cabeça levemente enquanto libertava um leve “Bom dia!”
Ela continuou a sorrir-lhe abertamente, entrando nos escritórios e dirigindo-se à sua secretária, cumprimentando todos por quem passava e mesmo os seus colegas que estavam a trabalhar no outro extremo do salão e que erguiam os braços no ar em jeito de resposta.
Ligou o computador e pendurou a bolsa nas costas da cadeira onde se sentou e que fez girar uma e outra vez, assim como um ritual com que iniciava o trabalho todos os dias.
Colocou os auriculares e ajeitou o pequeno microfone que envolvia a parte esquerda do seu rosto. A sua secretária estava bastante aprumada, com os papéis todos alinhadas e uma ou outra caneta espalhadas pela mesa de vidro. Num dos cantos do seu cubículo, havia uma montanha de post-its das mais variadas cores.
O dia correu dentro da normalidade.
Ela atendia chamadas com toda a simpatia e, por mais furiosas que algumas pessoas estivessem com assistência técnica ou com a qualidade dos produtos, a sua voz enternecedora acabava por ter efeitos relaxantes e a conversa acabava sempre amavelmente. Também ajudava muito a isto, o facto de ela fazer de tudo para resolver os problemas que os clientes lhe apresentavam. Não descansava enquanto não conseguia deixar o cliente satisfeito por inteiro e era por essa razão que continuava na empresa depois de tanto tempo, já que a grande maioria dos seus colegas saia ao fim de seis meses ou um ano.
Ela adorava o seu trabalho, aliás, ela mesma diria que adorava qualquer trabalho. O segredo estava em fazer com gosto e ver o lado bom das coisas, algo que a maioria não estava a habituado a fazer.
O trabalho ali era por turnos e muitos dos seus colegas só trabalhavam em part-time, por isso ela estava sempre a ver entrar e sair pessoas, recebendo-as a todas com uma alegria contagiante.
Quando finalmente o seu turno chegou ao fim, ela desligou o computador e colocou a bolsa no ombro, retirando depois um dos post-its vermelhos da pilha no canto da mesa.
Dirigiu-se novamente à recepção, despedindo-se de todos os que ainda se encontravam no salão, que já não eram muitos graças á hora tardia. Olhou para trás do balcão e não viu ninguém, algo que estranhou. Por norma o Jorge saia sempre depois dela e só nessa altura a recepção ficava vazia.
A perguntava que pairava na sua mente foi rapidamente respondida quando o homem em questão surgiu no corredor da direita, trazendo consigo uma garrafa de água fresca. Tinha ido buscá-la à cantina, com certeza!
“Pensei que já te tinhas ido embora.” – disse com um grande sorriso ainda estampado no rosto.
Ele limitou-se a olhá-la ao de leve e prosseguir para detrás do balcão, bebendo um gole da garrafa que trazia na mão, sem se dignar a responder-lhe e afastando-se dela o mais que podia.
“Não está na hora de saíres? – Ela contornou o balcão e aproximou-se dele.
“Quem te deu autorização para entrares aq-…” – As palavras dele foram interrompidas quando ela elevou a sua mão à testa dele e deixou lá colado o post-it vermelho que transportara até ali.
“Porra! Outra vez?”
Ela soltou uma gargalhada sentida e voltou para a frente do balcão.
“Estiveste muito mal humorado hoje. Vi-te a ralhar com a Célia, a queixares-te ao João e ainda resmungaste por causa do almoço. Achei que precisavas de um pouco de cor na tua vida por isso hoje é o dia do vermelho.”
O rosto dele estava corado e ele retirou o intrusivo papel aderente que decorava a sua testa. – “Ninguém pediu a tua opinião!”
“Estás a ver o que digo? Estás outra vez a falar com quatro pedras na mão. Relaxa!”
Não era a primeira vez, aliás, dir-se-ia que era um hábito aquele joguete do post-it. Todos os dias, no final do turno, ela lhe colava um papel colorido no corpo, conforme o seu comportamento durante o dia. Maioritariamente eram de cores vivas, pois ela achava sempre que ele precisava alegrar-se mais e, na sua mente, aquele oferenda colorida ajudá-lo-ia a isso.
“Se parasses de fazer este jogo dos post-its todos os dias, talvez eu fosse mais benévolo contigo. Aliás … eu não te vejo a colares papéis na cabeça dos outros. E olha que há alguns que bem precisavam de uma cor.”
“Andas muito observador …”
O rosto dele ficou ainda mais vermelho. – “Não penses que presto especial atenção a ti!”
“Não?”
“NÃO!”
“Tens a certeza?”
“Absoluta!”
“Vais descer?”
“Contigo?”
Ele não tinha pensado antes de responder em forma de pergunta, mas arrependeu-se rapidamente ao ver o sorriso, agora matreiro, que cobria os lábios dela.
“É sexta-feira, lembras-te?”
“E o que quer isso dizer?”
“Que amanhã não temos hora para nos levantar…”

Submetido ao desafio “A cor dos meus dias” da Fábrica de Histórias

P.S.: Ando a treinar os romances já que pretendo escrever uma colectânea de contos deste género (já cá falei do “Através do vidro”). Confesso! Não é o meu forte … mas com treino hei-de chegar lá!

Rotina

15_rotinaEle olhou para o relógio no monitor e reparou que já passavam cinco minutos das treze horas. Pressionou o botão Power, agarrou o seu casaco que estava pendurado na cadeira que ocupava e levantou-se para sair o escritório.
“Vou almoçar.”
Não aguardou a resposta do seu chefe que estava concentrado no trabalho à sua frente e que se limitou a acenar com a cabeça.
Saiu para o corredor e desceu pelo elevador, juntamente com outras cinco ou seis pessoas que ele não reconhecia mas que imaginou trabalharem no mesmo andar que ele.
Como era já costume, atravessou o parque a pé e dirigiu-se a um pequeno restaurante com um placard reluzente com as palavras “Restaurante Sabor Tradicional”. Entrou silencioso e dirigiu-se ao fundo do salão. A sua mesa estava vaga, como aliás sempre acontecia, encostada à parede bege e sobrevoada por uma grande pintura a óleo que retratava a cidade no século anterior.
Sentou-se de forma a ficar de frente para a entrada e abriu o menu na primeira página. As diárias, escritas num chamativo post-it amarelo eram “Pescada cozida com ervilhas”, “Carne de Porco à Alentejana” e “Crepe vegetariano”.
Voltou a fechar o menu, mesmo a tempo de ser recebido com um sorriso pela empregada de mesa que vinha recolher o seu pedido.
“O que vai ser hoje, senhor?”
“Peixe, por favor!”
“E para beber?”
“Vinho tinto.”
“Vai desejar sopa? Antes ou depois?”
“Antes.”
“Com certeza! Eu trago já de seguida.”
Já há uns meses que visitava de segunda a sexta feira aquele restaurante, mas nunca chegara a saber qual o nome de nenhum dos funcionários, assim como tinha a certeza que eles não sabiam o seu.
Reparou que um dos homens que descera consigo no elevador estava sentado numa das mesas perto da entrada, conversando animadamente com mais dois homens e três mulheres. Não sabia ao certo se os outros também tinham descido consigo, mas também não quis pensar demasiado nisso.
A empregada de mesa trouxe–lhe um prato de sopa de legumes e pousou-o delicadamente na mesa, desejando-lhe um bom apetite.
Enquanto elevava a primeira colherada à boca, reparou por momentos que uma outra jovem se sentava na mesa em frente à sua, de costas viradas para a coluna, o que fazia com que estivesse de frente para ele. Ela, assim como ele, tinha já quase que um lugar reservado. Sentava-se sempre no mesmo local, da mesma forma, à mesma hora.
A sua pescada foi rapidamente servida assim que terminou a sopa e às catorze e vinte horas saiu do restaurante e regressou ao escritório.

No dia seguinte, à mesma hora, voltou a sair para almoçar. Mais uma vez não reparou quem seguia no elevador consigo e ao chegar ao restaurante deu por si, novamente, a pensar se os outros cinco elementos da mesa mais vivaz trabalhavam no mesmo prédio que ele. Pensamento esse que rapidamente esvaneceu, como sempre, para o canto das insignificâncias do seu cérebro.
A sopa foi servida com o sorriso de sempre e ele saboreou lentamente cada colherada. Quando, minutos depois, a empregada levantou o prato vazio e lhe serviu os Panados com Arroz de Tomate, ele deu por si a sentir a falta de algo, sem saber exactamente o que era.
Terminou a refeição e olhou para a mesa à sua frente … vazia …
Ergueu um sobrolho, sem se dar conta disso, e questionou-se interiormente o que teria sucedido à ocupante habitual.
O relógio apontava as catorze e vinte horas e ele saiu religiosamente pela porta, depois de deixar o dinheiro na mesa.

Nos dias seguintes, estranhou a ausência da jovem que desde sempre se sentara à sua frente, mas com quem raramente cruzara olhares e nunca trocara mais do que um simples “Boa tarde”. Era-lhe bastante incomodativo sentar-se só no canto mais recôndito do restaurante, como se isso não lhe parecesse normal ou mesmo desejável.

O fim de semana chegou e consigo os dias em que ele não ia para o escritório, e, consequentemente não almoçava no “Restaurante Sabor Tradicional”.

Quando a segunda feira chegou, ele deu por si a ansiar pela hora do almoço.
Já dentro do elevador, falhou em perceber, uma vez mais, quem lá circulava, embora as suas vozes enchessem o pequeno cubículo descendente.
Entrou no restaurante, mais apressado do que habitualmente, sentou-se e deu uma olhada rápida no menu. Não tinha vontade de comer nada do exposto no cardápio e o seu estômago dava voltas e voltas, deixando-o com uma sensação estranha.
“Boa tarde! O que vai desejar hoje?”
A simpática empregada loira, usava hoje um batom vermelho que fazia sobressair os seus lábios finos.
“Hoje vai ser só sopa. Não estou muito bem disposto!”
“Mas o que o aflige? Precisa que lhe traga algo especial?”
“Não obrigada! A sopa deve fazer-me sentir melhor.”
Ela pareceu genuinamente preocupada enquanto virava costas e pedia ao cozinheiro uma sopa “super-caprichada”.
Cinco minutos depois tinha o prato à sua frente, mas não conseguiu sequer pegar na colher. O seu olhar estava fixo na mesa da frente, ansiosamente aguardando a chegada da sua mais fiel ocupante.
Ele não entendia o que se passava consigo. Não era como se eles fossem amigos, colegas ou sequer conhecidos. Não sabia o nome dela, a sua idade, onde trabalhava, o que fazia, do que gostava – à excepção de ler, porque trazia sempre um livro consigo – mas sabia que se não a visse rapidamente a sua vida não voltaria a ser a mesma. Ela tinha quebrado o ciclo. A rotina. A mecânica da sua vida. A sua roda tinha parado de girar, para depois começar a rodar no sentido contrário. Ele precisava desesperadamente que essa roda girasse na direcção certa novamente e isso só aconteceria quando ela voltasse a sentar-se ali!

O seu coração pareceu saltar dentro do peito quando o vulto reconhecível da jovem se aproximou e ocupou o seu lugar. Ela parecia fraca e doente mas olhou-o e carinhosamente sorriu na sua direcção.
“Boa tarde!”
Senti a sua falta … Era o que ele queria dizer, mas ao invés continuou a olhá-la e depois convidou-a a sentar-se na sua mesa.
Ela olhou-o curiosa e depois de uns segundos algo constrangedores, pegou na sua bolsa branca e ocupou permanentemente um dos muitos lugares vazios no coração dele.

Submetido ao desafio “Encontros e Desencontros” da Fábrica de Histórias

Um dia no Futuro

13_futuro1O cigarro acesso e ainda meio por consumir foi repousar no cinzeiro ao lado da cama. O fumo que saiu por entre os carnudos lábios da sedutora mulher despida, envolveu o quarto escuro. O homem que dormia a seu lado, com o seu corpo musculado e tez bronzeada, era o melhor amante que ela conhecera e os dois entendiam-se muito bem entre lençóis e fora deles.
O luxuoso quarto estava silencioso e não se ouvia uma sequer sirene no exterior do prédio. As estrelas e a Lua cheia reluziam mais do que nunca.
Um ecrã holográfico saltou à frente dos seus olhos, o seu verde contrastava em absoluto com o restante ambiente, exibindo em letras mecânicas a mensagem

Consulta mensal de saúde marcada para daqui a 1 hora

Ela pressionou o holograma no canto superior direito e o ecrã desapareceu por completo. Desviou os lençóis de cetim que acariciaram gentilmente a sua pele e saiu da cama sem grandes cerimónias, caminhando nua pelo extenso quarto.
Aproximou-se do pequeno ecrã que estava colocado na parede ao lado da porta de entrada e pressionou os números

754391275

O ecrã mudou para a cor laranja e exibiu a mensagem

Terminar sessão

A mulher desmaterializou-se.

Num minúsculo quarto, cujo único mobiliário era uma espécie de cadeira de consultório com uma infinidade de fios ligados à corrente e dez pequenos ecrãs em todos os lados, repousava uma mulher obesa.
Um dos ecrãs exibia uma mensagem em letras vermelhas

Sessão terminada

A mulher abriu os olhos relutante e levou as mãos inchadas até aos fios que estavam ligados à sua testa, retirando-os cuidadosamente, um a um, e colocando-os numa bacia metálica do seu lado esquerdo.
As luzes amarelas do compartimento ligaram-se automaticamente assim que ela retirou as pernas gordas do conforto da cadeira.
As suas pernas não resistiram e cederam perante o seu peso. Ela embateu no chão com um sonoro som e gemeu palavrões e frustrações umas a seguir às outras, como se isso a fosse ajudar a levantar-se.
Demorou alguns minutos a conseguir erguer-se. Os membros estavam adormecidos e o corpo não estava habituado a carregar tanto peso. Quando finalmente conseguiu mover-se correu o fecho do fato completo que usava e despiu-o com alguma dificuldade. O suor e restantes fluidos que lhe cobriam o corpo tinham colado o fato, já de si justo, ao seu corpo quase como um autocolante.
Começou a caminhar lentamente até à porta metálica que se encontrava do lado esquerdo do quarto. A porta deslizou para lhe dar passagem. Do outro lado encontrava-se um cubículo onde não cabia mais de uma pessoa, com as paredes brancas cobertas de pequenos orifícios. O tecto era em metal e quando ela entrou lá dentro a porta voltou a fechar-se, exibindo um pequeno ecrã, na parte de trás da porta, com várias escolhas

Duche rápido
Massagem corporal
Sauna
Deluxe

Ela pressionou a opção de duche rápido.
Jactos de água de cheiro voaram pelas centenas de orifícios da parede e o tecto abriu-se para deixar descer duas pequenas mãos metálicas, uma com uma esponja de massagens e outra com orifícios nas extremidades. As duas juntaram-se e do primeiro orifício saiu um espesso líquido de cor rosa para cima da esponja da outra mão que rapidamente iniciou a sua árdua tarefa de esfregar todos os cantos do corpo da mulher. Ela limitou-se a abrir ligeiramente os braços e pernas, deixando que os mecanismos fizessem o seu trabalho.
Cerca de quinze minutos depois, com o cabelo já hidratado e o corpo seco, todos os aparelhos recolheram às suas estações e o ecrã brilhou de vermelho

Duche terminado

A porta voltou a abrir-se e ela deu passadas lentas pelo chão frio, atravessando o quarto adjacente e indo de encontro à outra porta que também se abriu à sua passagem.
Estava dentro de um outro cubículo mas este estava revestido com espelhos e apenas continha uma ranhura que atravessava uma das paredes de um lado ao outro e um pequeno ecrã, colocado por cima da ranhura, com um simples menu

Homem
Senhora

Seleccionou senhora o que deu lugar a outro menu

Casual
Desportivo
Formal

Ela foi seleccionado menu atrás de menu e as escolhas aumentavam a cada pressionar dos seus dedos desajeitados. Finalmente surgiram no ecrã múltiplas fotos de vestidos floridos, a escolha que ela tinha feito anteriormente. Ela pressionou o terceiro da primeira fila, um curto vestido primaveril, branco com flores de todas as cores. Nos espelho o seu reflexo mudou e ela pôde ver, de todos os ângulos possíveis e imaginários, como ficaria naquela roupa. O seu corpo continuava despido mas a imagem holográfica era perfeita e ela decidiu que aquele vestido lhe assentava muito bem. Pressionou

Comprar

A ranhura na parede abriu-se para deixar passar o vestido que ela acabara de adquirir. Ela vestiu-o rapidamente e depois voltou ao ecrã para pressionar a seguinte cadeia de escolhas

Mudança de parâmetros > Transporte > Local: Consultório Médico “Beleza Eterna” > Aprovar desintegração

Assim que terminou esta sequência o chão começou a brilhar um intenso azul e o corpo dela começou a desmaterializar-se.

Quando voltou a abrir os olhos encontrava-se em frente a um balcão, numa pequena sala de paredes lilás. A menina atrás do balcão cumprimentou-a com um largo sorriso pedindo gentilmente para que colocasse a palma da mão no ecrã no topo do balcão. Ela fê-lo e foi imediatamente identificada pelo computador

Lurdes Andreia Casanova Arantes

Foi avisada que o médico estava à sua espera e que podia entrar no consultório número 1546. À sua esquerda estava um longo corredor, percorrido por duas passadeiras rolantes, cada uma seguindo em direcções opostas. Ela pisou o passadiço que seguia em frente.
Demorou cerca de 10 minutos a alcançar a porta que lhe fora nomeada. O médico que a recebeu não era seu conhecido, mas ela não estranhou. O homem, na casa dos quarenta, explicou-lhe que tinha engordado 22 kg desde a sua última consulta e sugeriu-lhe os procedimentos habituais. Check-up geral e intervenções cirúrgicas para remover o excesso de gordura e repô-la à sua beleza de sempre.
Foi tudo feito ali, com a ajuda das enfermeiras e cirurgiões robóticos que ela sempre reconhecera e que não falhavam nunca.
Quando terminou, horas depois, era a bela mulher que fumara, horas antes, um cigarro virtual num quarto virtual, acompanhada pela imagem virtual do seu marido. E sentia-se a pessoa mais feliz do mundo, sorrindo a todos que passavam por si no caminho de volta àquele quarto minúsculo e àquela fria cadeira impessoal.
O ciclo repetir-se-ia dentro de 30 dias.

Texto inspirado pelo desafio “Um dia no Futuro” da Fábrica de Histórias.

Efémera

12_efemeraBem dizem que um azar nunca vem só!
Se me contassem que o mundo desabaria aos meus pés num só dia, eu não acreditaria, mas aqui estou, desfazendo-me no meu próprio arrependimento, assoberbado pela minha estupidez e a colher os frutos podres que advieram das minhas plantações.
Costumam dizer a cada qual o que merece, mas eu acho que não fiz nada para merecer isto. Ou será que fiz sem me dar conta disso? Por vezes as nossas acções tem consequências mais profundas do que aquelas que prevemos.
Maldita hora em que decidi enfiar-me de cabeça nesta merda! O que é que vou fazer agora?

Esta gente toda a passear no parque, como se a vida não pudesse ser melhor.

Não sejas egocêntrico! Toda a gente tem problemas, mas também tem direito a dar um passeio sem se preocuparem com as coisas mais insossas da vida.
Claro que sim! Eu é que estou para aqui com pena de mim próprio, sem saber que passo dar a seguir ou se haverá um a seguir.
Que vergonha! Compõe-te! Afinal és um homem ou um rato?

Rato

Acho que vou deixar-me ser um por mais uns momentos. Afinal não estou a incomodar ninguém, pois não?

Aquele cão não está a pensar fazer o que eu …
AH! Raios! Baba de cão! EW! Tudo o que eu precisava neste momento …
“Magui, pára!”
Não acha que já vem tarde minha senhora? Deixa a cadela solta e depois ela põe-se a lamber estranhos. Yark!
“Você está bem? Esta cadela tem a mania de saltar para cima de toda a gente.”
Se quer pedir desculpas diga-o! Não olhe para mim com esse sorriso genuíno que eu assim nem consigo ficar verdadeiramente zangado.
“Não se preocupe. É bom saber que pelo menos os animais de quatro patas ainda gostam de mim.” – Não era nada disto que eu queria dizer!
Que gargalhada tão contagiante! Raios! Porque é que me estou a rir com ela? É suposto estares furioso com o mundo.
“Tens muito sorte Magui, por este senhor ser tão simpático, senão corrias o risco de ficar de castigo, menina mal comportada.”
Nunca pensei que uma voz pudesse soar tão doce. Que estranho …
Hey! Não precisa ir-se já embora. Eu estou a gostar da sua vossa companhia.
“Espero que agora já esteja mais animado.”
“Que quer dizer?”
“Bem … esta cadela parece sentir-se atraída pela tristeza das pessoas. E ela parece ter o dom de alegrar essas pessoas. Eu sei que parece estranho, mas é a verdade!”
Mas não foi a cadela que me alegrou. Foi você! Com esse sorriso e essa voz que parece preocupar-se … você, com essa estranha magia que a rodeia, capaz de, em segundos, fazer-me esquecer porque estive horas sentado neste banco de jardim.
“Só quero dizer-lhe que o que quer que esteja a atormentá-lo há-de passar. Afinal, tudo na vida é passageiro!”
“Obrigado!”
“Não tem nada que me agradecer.”
Tenho sim! Mais do que julgaria possível.
Já se vai embora?
Será que voltarei a vê-la?
Se a deixar escapar agora será que a maldita escuridão não voltará para me consumir. Por uma merda sem significado nenhum?
Não vá!
Eu não quero que você seja mais uma das coisas efémeras da minha vida.

“Espere!”

Texto inspirado pelo desafio “Feiticeiras” da Fábrica de Histórias.

Sexta-feira

11_sextafeiraO autocarro aproximava-se. Ela pressionou o botão de pausa no leitor de Mp4 e retirou os auscultadores dos ouvidos, apenas por delicadeza. Depois levou uma das mãos ao passe que não chegara sequer a retirar do bolso do casaco, desde que o colocara lá nessa manhã. O chiar dos pneus com a paragem da viatura, fê-la estremecer um pouco. Subiu os três degraus metálicos, a seguir a um senhor de fato e gravata, que sorria abertamente ao motorista, como se tivesse acabado de receber uma promoção. Esgueirou-se pelo corredor central do veículo, conhecendo já todos os cantos daquele transporte bastante confortável, mas por vezes demasiado cheio de passageiros barulhentos. Ocupou os dois bancos que se encontravam depois da porta traseira do veículo. O seu local de eleição.
O autocarro foi-se enchendo a cada paragem que fazia, como sempre acontecia. Mal se aproximou da escola secundária, ela suspirou. Tinha chegado a hora dos miúdos fazerem um escabeche, conversando animadamente uns com os outros, aos gritos. A felicidade deles, no entanto, nunca a conseguia contagiar. Ela que odiava o seu trabalho e que tinha sempre pretensões de pensar demasiado nos seus problemas, para sequer poder tentar distrair-se ou alegrar-se com os risos contagiantes dos que a rodeavam. Ao invés disso, chegava a irritar-se por não conseguir ouvir a música que tocava nos seus ouvidos.
O primeiro rapaz a entrar, foi a correr para o fundo do autocarro e estendeu-se sob os cinco assentos lá encontrados, auto-denominando-se o rei da última fila. Os seus amigos, uma rapariga de cabelos muito loiros e dois rapazes com os olhos tapados pelos cabelos demasiado longos e cobertos de gel, prontificaram-se a saltar para cima do amigo gritando “BANZAI”, provavelmente sem saberem o significado da palavra. Muitos outros lhes seguiram as pisadas e ela nunca entendeu porque as crianças pareciam gostar tanto de viajar na parte de trás do veículo, quando a parte da frente muitas vezes estava quase vazia. O motorista, esse, devia agradecer esse curioso facto, já que pelo menos não tinha de se preocupar tanto com os seus jovens passageiros.

A noite começava a antever-se no horizonte e ela esfregou os olhos que pareciam estar a ter dificuldade a ajustar-se à falta de luz. A algazarra era enorme e ela suspirou uma vez mais. Ainda teria de aguentar mais meia hora daquele inferno antes de chegar ao seu destino, e a maioria dos que ali estavam não sairiam antes de si, por isso não havia grandes hipóteses de haver silêncio nos próximos minutos.
A senhora de idade que estava sentada no banco à sua frente, tossiu uma vez mais e levou um lenço de pano aos lábios, para aparar o catarro que não a deixava descansada um só segundo. Mesmo assim ela não parava de falar com a sua companheira, uma senhora de quarenta e poucos anos que a escutava com atenção, enquanto ela contava a sua juventude e os momentos felizes que vivera com o seu falecido Afonso (marido).
O homem do fato e gravata, sentado na fileira do outro lado, falava alegremente ao telemóvel, fazendo planos com a namorada para o fim-de-semana que se avizinhava. Parecia não caber em si de felicidade.

Ela, sempre focada nos seus problemas, não conseguiu evitar uma pontada de inveja. Como desejava também ter planos para um fim-de-semana a dois … se ao menos não tivesse acabado com o último namorado nem três dias antes.
Os risos nunca pararam, como uma música de discoteca que, ao princípio odiamos e depois entranhamos. Devia ser contagiante.
Devia!

Ela deu por si a chorar. As lágrimas começaram a escorrer-lhe rosto abaixo sem que lhes desse permissão para tal. Como que num complô, a bateria do Mp4 acabou e a música que até a aí fizera o seu cérebro trabalhar sem parar, era agora substituída pelo silêncio, invadido pelo estranho mundo à sua volta e que ela negara até ali. Como uma onda de 2 metros que a atingiu de frente numa altura em que ela não sabia sequer nadar.
A alegria dos outros era-lhe dolorosa, mas ao mesmo tempo, estranhamente confortante.
O que estava ela a fazer da sua vida? Matando-se a trabalhar num ramo que detestava, com um patrão que desprezava e que nunca lhe dava o devido valor, a ganhar um salário de miséria. Mas o pior não era isso. O pior era que levava consigo os problemas da empresa, para casa, para a sua vida fora do trabalho. Afastava tudo e todos com o seu humor inexistente e a sua irritabilidade persistente. Tudo porque não conseguia limpar a sua cabeça dos problemas que a afectavam oito horas por dia, cinco dias por semana.
Que estava a fazer? A arruinar-se? O que podia e o queria fazer para mudar? Não era tarde demais … não podia ser!
O autocarro parou. Ela olhou pela janela e viu que tinha chegado à sua paragem. Aquela inalterável paisagem que a atormentava todos os dias, sempre igual, e ela, imutável, sempre no mesmo ciclo sem fim. Devia levantar-se e sair, sabia que era isso que era suposto fazer, que era isso que o seu corpo estava programado para fazer, mas era mesmo isso que queria?

As portas fecharam-se.
Ela continuou sentada no mesmo assento, enquanto o veículo prosseguiu marcha.
Sentiu-se aliviada! Respirou fundo e fechou os olhos. Embora lá fora a escuridão preenchesse o céu, ela sentiu-se invadida por uma estranha e calorosa luz. Seguiria viagem e sairia na última paragem, se desejasse, voltaria a entrar noutro transporte e seguiria viagem até onde o coração a mandasse. Não pararia até se sentir satisfeita.
Afinal, era sexta-feira e ela tinha um fim-de-semana inteiro pela frente …

Texto inspirado pelo desafio “Uma viagem inesquecível” da Fábrica de Histórias.

Nota: Vejam também Uma viagem especial, uma história bem contada e muito bem escrita.